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Existe uma grande polêmica do uso micro-ondas e radioatividade do alimento com possível formação de subprodutos que podem ser nocivos ao nosso corpo. Estudos publicados pela Radiation Research Society e The Bioelectromagnetics Society, concluíram que não foi possível identificar qualquer carcinogênese de radiação de micro-ondas 2,45 GHz, mesmo com níveis de exposição crônica, isso porque o micro-ondas é uma radiação não ionizante não sendo capaz de alterar a estrutura química das células, o que difere da radiação ionizante, esta provoca alterações celulares irreversíveis, como as em Raios- X, usinas nucleares, sistema solar, por exemplo.
Tanto a radiação não ionizante(micro-ondas), quanto a ionizante (Raios Gama Raios x e Faces de Elétrons) são utilizados na indústria de alimentos para diversas finalidades.
O micro-ondas, radiação não ionizante, é utilizado com finalidade de pasteurização/esterilização em massas frescas, pratos prontos, alimentos acondicionados, alimentos semissólidos, leites e pães fatiados. Como pré-cozimento em bacon, hambúrgueres e embutidos no geral. Em carnes, peixes e em desidratação e secagem de massas, arroz, aperitivos e sucos, na etapa final de secagem.
Já a radiação ionizante (Raios Gama, Raios x e Faces de Elétrons) é aplicada em níveis de segurança, segundo a FAO/OIEA/OMS e Codex Alimentarius, em doses <1kGy a 10kGy com objetivo de aumentar a vida útil de prateleira eliminando microrganismos alterantes e retardando processos fisiológicos de amadurecimento, devendo o rótulo do produto embalado indicar que este foi tratado com radiação ionizante. São essas radiações ionizantes que, segundo Ordóñez e colaboradores, podem formar produtos radioalíticos. Como a água é o componente dominante em vários alimentos, quando eles são irradiados produzem diversos radicais livres com grande capacidade de reação, seu efeito é potencializado na presença de oxigênio formando peróxidos e superperóxidos, altera a estrutura de várias macromoléculas, além de danificar o material genético.
Vários textos, que não são estudos científicos, circulam na internet sobre a relação do micro-ondas com o câncer, além de outras alterações hormonais e imunológicas.
Em relação aos produtos radioalíticos, RAUL., et al (2002), reforça que os compostos transmitidos por alimentos (2-alquilciclobutanonas) podem promover a carcinogênese do cólon, porém, eles foram encontrados exclusivamente em alimentos contendo gordura irradiada, ou seja, radiação ionizante, e não foram detectados em alimentos não irradiados tratados por outros processos alimentares, como congelamento, aquecimento, aquecimento por micro-ondas, irradiação ultravioleta, processamento de alta pressão ou tratamentos de preservação simples.
Um estudo publicado pelo Journal of the American Dietetic Association avaliou o teor de produto final de glicação avançada (AGE) em 549 alimentos, com base no conteúdo de carboximetilisina (CML) e Metilglioxal (MG). Porém no método de micro-ondas foram poucos alimentos estudados entre produtos industrializados e carnes. A carne bovina, salmão e frango aquecidos no micro-ondas tiveram menores formações desses compostos quando comparados à métodos de preparo como grelhar, assar e fritar. O preparo desses alimentos em temperaturas mais brandas e no calor úmido apresenta conteúdos menores de AGEs e, logo, aquecer o alimento posteriormente no micro-ondas haveria uma menor formação se comparado ao processo de fritar, assar ou grelhar. E o que muitas pessoas fazem é grelhar o frango e condenar o micro-ondas, tostar o pão e condenar o micro-ondas. Melhor secar uma fatia de pão no micro-ondas para fazer uma torrada que passar na frigideira e tostar o pão, aquela crosta escura formada no alimento apresenta maior concentração e produtos industrializados têm os maiores teores. Vale ressaltar que apenas dois tipos, entre muitos AGEs, foram medidos neste estudo, porém são dois marcadores mais estudados e de grande impacto na saúde o que garante credibilidade ao seu papel como agentes patogênicos.
Dica: A quercetina, encontrada na cebola, pode ser um eficaz inibidor da formação de CML em todos os diferentes estádios de glicação. *Acrescentar bastante cebola no final das preparações*.
Outro assunto discutido é sobre o vazamento da radiação através do micro-ondas. Segundo Lahham e Sharabati (2013), de fato, aparelhos mais antigos, são mais susceptíveis a esse vazamento, porém, devido ao pequeno tempo gasto perto do forno de micro-ondas e a rápida diminuição do vazamento de radiação, não se espera que o uso do fornos de micro-ondas cause efeitos adversos para a saúde.
Contudo, PALL (2016) avaliou os efeitos em relação aos campos de frequência eletromagnéticas do micro-ondas na ativação do canal de cálcio voltagem-dependentes VGCC, promovendo um liberação neurotransmissora e neuroendócrina excessiva, bem como estresse oxidativo e outras respostas. A estimulação excessiva do VGCC leva a um aumento do cálcio intracelular, e gera uma “exaustão” das células e em alguns casos a morte celular.
Além disso, os estudos destacam que o sistema nervoso é provavelmente mais sensível a essas radiações eletromagnéticas produzindo efeitos neuropsiquiátricos generalizados, como insônia, dores de cabeça cansaço, depressão, déficit de atenção, tonturas, entre outros.
No entanto, radiação eletromagnética refere-se também a ondas de rádio (telecomunicações – radiofrequência). A maioria das pessoas está exposta a radiação eletromagnética por esse meio de propagação todos os dias, exemplos: quem vive perto de antenas de transmissão, como transmissões de rádio e televisão, WiFi e Bluetooth, telefones celulares (torres de celulares) entre outras fontes.
Como as fontes de radiofrequência são tão comuns no ambiente moderno, não há como evitar completamente a exposição. Mas é possível diminuir a sua exposição, que é importante, como manter afastado de aparelhos e equipamentos que usam da radiação eletromagnética, no celular usar o fone de ouvido, principalmente em ligações prolongadas, não dormir com o celular ao lado da cama ou debaixo do travesseiro.
Portanto, não podemos condenar o uso do micro-ondas e desconsiderar as outras fontes, como por exemplo o uso frequente do celular atualmente, até mesmo que o tempo gasto perto do micro-ondas é pequeno e também podemos e devemos afastar durante seu uso, desligar da tomada e efetuar as manutenções necessárias, principalmente em aparelhos antigos.
Em relação ao micro-ondas com o alimento, não há comprovações científicas que constatam a formação de produtos radioalíticos, AGEs (ainda faltam mais estudos COM ALIMENTOS) e não estudos com moléculas isoladas, como fez LI, et al (2012) e sem outros métodos comparativos. O que não se deve fazer é utilizar embalagens plásticas para aquecer o alimento no micro-ondas, devido a transferência de componentes tóxicos desse tipo de embalagem para os alimentos.
Em relação a perda de nutriente não se pode afirmar que o micro-ondas é pior, devido à complexidade da estrutura celular de cada alimento. Têm alimentos que feitos no micro-ondas retêm mais os nutrientes, outros perdem mais ou praticamente mantêm, assim ocorre em todos os métodos de cocção.
O micro-ondas é um equipamento doméstico muito prático e muitas das vezes é o único equipamento presente nas empresas para que o funcionário aqueça sua marmita. Seguindo as orientações passadas não tem o que temer e o mais importante: pratique saúde sempre, alimente-se bem, mais comida de verdade, menos produtos, mais atividade física e uma pitada de bom senso que faz toda a diferença.
Referências:
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© 2014. Anna Cláudia Loyola - Nutricionista.
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